terça-feira, 18 de outubro de 2011

a bailarina

  

"É por ela existir que continuo a dançar."




    Eu quero dizer-te que passou. Que já não sofro mais. Que o passado ficou no seu devido lugar. Mas sou incapaz. Seria mentir-te e negar aquilo que agora sou. Não o que quero ser, mas no que me tornei sem ti. Um corpo vazio. Uma bailarina sem a sua música. Um tudo sem nada.
    Diria-te que sou plenamente feliz. De uma forma um tanto diferente do que seria contigo, mas, ainda assim, feliz. Diria-to se de tal fosse capaz. Para te ver feliz, para não ver quaisquer barreiras entre o teu e o meu mundo,  diria-te que te amei. Num tempo que acabou, sem caminho de regresso.
    Diria-to, só para ver uma vez mais o teu mundo. Diria-to, mas não sou capaz. 
    Talvez porque tal será para sempre impossível. Talvez porque seria denunciada pelo olhar, pelo sorriso sem verdade, pelo grito de sofrimento e de negação que cada palavra da mentira traria consigo. Talvez porque, como alguém disse, o amor não se conjuga no passado; ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente.

    Eu não consigo imaginar uma bailarina feliz sem a sua música. É impossível dançar para sempre sem uma melodia. A melodia existe, nem que não passe de uma memória e só nós a sintamos realmente. Mesmo que ela só soe e cante para nós, ela existe. E é por ela existir que a bailarina continuará, para sempre, a dançar.

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